domingo, 10 de outubro de 2010

Mundo assume e escancara ‘guerra cambial internacional’

6 de outubro de 2010 | 17h42

Sílvio Guedes Crespo

Depois que o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, quebrou o gelo, países chave da economia mundial parecem se sentir cada vez menos culpados em usar Estado para enfraquecer suas moedas, porque agora a culpa é sempre dos outros.

Mantega afirmou na semana passada que o mundo está vivendo uma “guerra cambial internacional”. No dia seguinte, a frase do ministro foi manchete (principal notícia do dia, no jargão jornalístico) do “Financial Times”. Um comentarista do mesmo jornal disse que a “guerra cambial” já existia, mas ninguém queria admitir.

Guerra escancarada

Agora, no entanto, essa batalha está se tornando escancarada e a expressão “guerra cambial” está na pauta do dia da imprensa e da política internacional. “Quando as maiores economias com taxa de câmbio subvalorizada impedem suas moedas de se apreciarem, isso incentiva outros países a fazer o mesmo”, disse o secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Gheitner, conforme registrou o “Wall Street Journal”. Ou seja, se o outro pode, eu posso.

O site da Nasdaq, a bolsa de valores dos EUA que reúne empresas de tecnologia, afirma que o dólar cai devido à intensificação da “guerra cambial”. Martin Wolf, colunista do “Financial Times”, publicou hoje um artigo com o título: “Como lutar contra a China na guerra cambial”.

Medidas contra dólares

Com o discurso de defesa do câmbio flutuante, o Brasil dobrou a alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para tentar reduzir o ritmo de entrada de dólares no País, permitiu que o Fundo Soberano compre a moeda americana (para evitar que ela inunde o mercado) e ampliou para US$ 9 bilhões o poder de o Tesouro Nacional comprar o dinheiro que vem de fora.

O Japão reduziu a zero sua taxa de juros, desincentivando a entrada de capital estrangeiro e lançou um programa de compra de ativos que ajuda a depreciar o iene. O banco central da Suíça desde julho gastou mais de 14 bilhões de francos suíços na compra para comprar dólares, informou o “Financial Times”. A Austrália também reduziu sua taxa de juros, e a Coreia do Sul aumentou a supervisão estatal sobre o mercado, noticiou o “Wall Street Journal”.

Enxurrada de dinheiro

Enquanto isso, os EUA continuam inundando o mundo com dólares. Segundo o site Forex Crunch, o país já imprimiu US$ 1,75 trilhão desde março de 2009. O país que gerou a crise financeira internacional está com uma taxa de desemprego que é a terceira maior desde 1948, para meses de agosto, como mostra um gráfico do “Wall Street Journal”.

O déficit nas contas públicas dos EUA aumentou de cerca de US$ 200 bilhões em agosto de 2007 para US$ 1,3 trilhão neste ano, aponta o site Briefing.com. Isso significa que sextuplicou a quantidade de dólares de que o governo norte-americano necessita imprimir ou tomar emprestados para pagar suas contas.

Esse dinheiro não fica inteiramente dentro dos EUA. Ao contrário, grande parte sai de lá. O déficit da balança comercial vem aumentando desde maio de 2009, quando estava em menos de US$ 30 bilhões e agora está em mais de US$ 40 bilhões, ainda segundo o Briefing.com.

Capital dribla IOF

Parece até que ninguém mais aguenta tanto dinheiro americano circulando por aí. Mas não é o caso. Países como o Brasil precisam de poupança externa para financiar o seu desenvolvimento. A dificuldade é direcionar esse dinheiro para investimento de longo prazo.

O governo taxou com IOF de 4% apenas o capital estrangeiro que vai para o mercado financeiro. Mas nada impede que as empresas enviem para cá o seu dinheiro na forma de investimento estrangeiro direto, que paga 2% de IOF, e depois o apliquem no mercado financeiro. O resultado é que entram dólares, o real sobe, e esse dinheiro não paga parte das grandes obras de infraestrutura de que o País necessita.

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